Racionalismo

sábado, 29 de março de 2008

Construção mecanizada de habitações e urbanizações de grandes dimensões


Bruno Taut e Martin Wagner:
Hufeisensiedlung, Berlim, 1931

Contudo uma repetição excessiva das formas exteriores era, desde o inicio, um perigo inerente ao racionalismo. Em parte era até desejada, pois a racionalização extremamente discutida nos anos vinte entusiasmava grandemente os arquitectos defensores de um racionalismo funcionalista. Existia a convicção generalizada de que um modo de produção o mais eficiente possível e, na medida do exequível, realizada por máquinas poderia gerar felicidade e bem-estar para todos. Nessa década, acrescia ainda o facto de a edificação altamente racionalizada ser o único modo de dar resposta à carência aguda de habitação provocada pela estagnação da construção civil causada pela guerra, e que tinha continuado a crescer devido à crise económica do pós-guerra e dos fluxos de refugiados desencadeados pelas novas fronteiras. Por esta razão foi dada primazia à utilização de elementos pré-fabricados e de produtos em série, ou seja, a estandardização de elementos construtivos. Além disso, também os edifícios e, com base nestes, urbanizações inteiras deveriam ser produzidas em série. Le Corbusier, provavelmente o arquitecto e urbanista mais influente do Movimento Moderno, já tinha concebido, em 1914, o seu sistema “Dom-ino”, por meio do qual o dono da obra, o arquitecto ou o seu utilizador podia completar um esqueleto estandardizado com elementos construtivos a partir de um catálogo (paredes, janelas, portas). Até 1922 desenvolveu a Casa “Citrohan”, cujo nome faz alusão à produção racionalizada de veículos Citroën.
Foi provavelmente Ernst May quem levou mais longe, antes da Segunda Guerra Mundial, a prática da “mecanização da construção de habitações” quando exerceu o cargo de fiscal de obras da câmara municipal de Frankfurt am Main de 1924 – 30. A partir de 1926 uma fábrica passsou a produzir elementos construtivos de grandes dimensões, com os quais eram construídas urbanizações inteiras – como por exemplo, a urbanização de Römerstadt de
1928 – 30. Pretendia-se, deste modo, acabar com a carência habitacional desta cidade no espaço de dez anos. Enquanto em Berlim, um pouco antes, se tinham feito experiências de betonar placas de parede inteiras in situ, a “placa normalizada” de Frankfurt tinha 3 metros de comprimento, 1.10 m de altura e 20cm de espessuras. Outra inovação revolucionária foi a “Cozinha de Frankfurt” concebida por Grete Schütte-Lihotzky: pela primeira vez fazia parte da nova habitação uma cozinha encastrada. Por um lado, esta solução tornara-se necessária visto o espaço das cozinhas, por motivos de custos, ter sido reduzido de tal modo que os antigos móveis volumosos já não caberiam. Por outro lado não tinha sido por motivos de economia de espaço que os móveis e a sua disposição tinham sido concebidos segundo princípios racionalistas. Partira-se antes do princípio de que com a racionalização das tarefas domésticas, que continuavam a ser totalmente realizadas pelas mulheres, isso permitiria aumentar o seu tempo livre ou o exercício de uma profissão fora de casa.



Viena, 1927 - 1929

Mas apesar de todas as economias, as novas habitações na Alemanha permaneciam inacessíveis às bolsas dos trabalhadores. E o numero de novos lares permanecia sempre insuficiente devido ao afluxo de constante de população às cidades. No entanto, só em Berlim, que juntamente com Frankfurt constituía o segundo maior centro com novas urbanizações da república de Weimar, foram construídos cerca de 100 000 habitações fomentadas pelo estado entre 1924, ano do início de uma estabilização relativa da economia, e 1931, altura em que os programas de construção de habitações foram quase completamente cancelados em consequência da grande depressão. Tal como em Frankfurt a construção em bandas era dominante: em vez de blocos construídos ao longo de ruas, delimitando o seu espaço, as casas eram ordenadas em bandas paralelas, perpendiculares às ruas. A implantação dos edifícios era orientada de acordo com o melhor aproveitamento da insolação e com uma distância adequada entre as bandas, espaço esse que era ajardinado. Apesar da construção em banda ser dominante, fizeram-se experiências de modelação dos espaços exteriores através da distribuição das massas construtivas, como no caso da Hufeisensiedlung de
Bruno Taut e Martin Wagner. Em contrapartida, na Áustria e principalmente em Viena, percorreram-se outros caminhos: erigiram-se blocos gigantescos , como o Pátio Karl Marx com mais de um quilómetro de comprimento que, em vez de pátios de traseiras estreitos, possuía pátios semi-públicos ajardinados. Deste modo procurava-se fortalecer o espírito de colectividade nestes “super blocos”, que então eram designados como “fortalezas vermelhas” devido à orientação política de muitos dos seus moradores.



Grete Schutte-Lihotzky:
Cozinha de Frankfurt, 1925

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