Racionalismo

sábado, 29 de março de 2008

Movimentos alternativos

O historicismo tinha produzidos interiores bafientos, abafadiços, sobrecarregados, dominados pelas cores escuras e uma ornamentação excessiva dos móveis e das fachadas dos edifícios. A Arte Nova tinha ainda possuído um certo toque sedutor e romântico. Mas, numa época de insegurança política e social como a dos anos vinte e trinta, muitas pessoas procuravam ter, pelo menos em casa, o “aconchego familiar” e não uma máquina para viver. Assim nos anos vinte continuavam-se a construir de modo tradicional ou então a revestir com exteriores revivalistas edifícios erigidos com técnicas modernas. Deste modo, a arquitectura “nacional” baseada na promoção das formas de arte tradicional e popular e nos regionalismos teve um papel especial. Este estilo encontra-se sobretudo nas cidades-jardim ou nas zonas rurais, cuja fisionomia se pretendia preservar ou na melhor das hipóteses, desenvolver de modo cauteloso. Na Alemanha as questões estéticas tomaram proporções de guerra santa. O poder político de direita obrigou à transferência da Bauhaus de Weimar para Dassau, em 1925, e fechou-a em 1932. A tentativa da sua continuidade em Berlim fracassou em 1933 coma tomada do poder pelos nacional – socialistas, que a consideravam a quintessência daquilo a que chamavam “bolchevismo cultural”. Voltaram-se não apenas contra a arquitectura e a arte modernas, mas contra a totalidade do mundo moderno. Prometiam aos seus seguidores uma estabilidade de um “império de mil anos”.
A arquitectura nacional-socialista seguiu os modelos da Antiguidade Clássica e conduziu à degradação cada vez maior do Neoclassicismo. Edifícios gigantescos, de comprimento desmesurado, geralmente revestido de pedra calcária, rigorosamente simétricos, com pisos térreos rusticados e ressaltos monumentais, assim como sequências intermináveis de colunas e janelas altíssimas, para irradiar uma magnificência fria e intimidar o observador.
Já não se pretendiam formas dinâmicas nem a transitoriedade, como nas construções modernas, mas formas estáticas e a perenidade. Deste modo, até a aparência “arruinada” das construções passou a entrar no jogo pelo seu “valor de testemunho da antiguidade”: Hitler chegou a mandar o seu arquitecto-chefe Albert Speer executar os desenhos que apresentavam os terrenos à volta da Assembleia Nacional do partido em Nürnberg com um aspecto meio decadente e sufocado pela vegetação.



Planos de Albert Speer para remodelação de Berlim, 1940


Nos planos para alteração de quase todas as grandes cidades alemãs, os nazis perseguiram uma intenção semelhante à que tinha em relação aos edifícios isolados. Os planos para a alteração de Berlim para “Germânia”, a capital do império, representavam o ponto máximo desse projecto: o “eixo Norte-Sul” – uma avenida gigantesca – partindo da maior estação ferroviária do mundo conduziria, através de um arco de triunfo, concebido por Hitler, até à “Grande Nave”, sobre cuja cúpula, com 290 metros de altura, estaria colocada a águia nacional-socialista segurando nas suas garras o globo terrestre.



Albert Speer: A grande Nave, 1940


Nesta forma de urbanismo, os aspectos sociais ou outros semelhantes não tinham já qualquer importância; o único objectivo era a encenação do poder através de uma arquitectura gigantesca. Contudo, na construção, fortemente reduzida, de habitação com fundos públicos, levava-se em conta a probabilidade de estados de guerra: assim, existem projectos de bandas de casas em que as caixas de escada e um dos quartos limítrofes de cada habitação eram desenvolvidos como espaço de defesa antiaéria. Existiam também regulamentos técnicos de construção e projecto relacionados com a guerra: a utilização de aço e de betão armado foi proibido em meados dos anos trinta, uma vez que esses materiais eram necessários para a construção de armas e de abrigos antiaérios.
É claro que os nacional-socialistas não se encontravam sozinhos com o seu Neoclassicismo pesadão. Em 1932, tinha terminado a época das vanguardas artísticas na União Soviética ao ser premiado um projecto de revivalismo historicista, monumental e maciço no concurso para o Palácio dos Sovietes. Nas décadas seguintes dominaram edifícios da habitação pomposos, “palácios dos trabalhadores” semelhantes à arquitectura estatal dos nazis no que se refere à distribuição das massas construtivas e à encenação, guarnecida, no entanto, com ornamentos históricos patéticos (estilo pasteleiro).


"Casa del Fascio", Itália, 1936

Em contrapartida, na Itália que vivia sob uma ditadura fascista desde 1922, o racionalismo artístico não só era tolerado como também era aplicado em construções para o partido, das quais a mais famosa é a “Casa del Fascio” (1936), em Como, de Giuseppe Terragoni e também a Fábrica Olivetti de Figini e pollini em Ivrea, perto de Turim, com a sua forma cúbica, uma fachada reticulada larga, os panos de parede brancos e lisos e a cobertura plana, apresenta no exterior um estilo semelhante ao da Unité d´Habitation (1947 – 52) de Le Corbusier. Na Itália industrializada com um atraso significativo, os fascistas viam-se como um “movimento moderno”: a esta situação vinha juntar-se a tradição dos futuristas, o movimento criado em 1909, que endeusava a era da industrialização, das máquinas e da velocidade e cujo porta-voz, Marinetti, se tinha tornado ministro dos caminhos de ferro sob Mussolini. Só a partir de meados dos anos trinta, à medida que os fascistas da Itália começaram a navegar cada vez mais nas águas da ideologia dos nazis alemães, é que, também eles , se afastaram do Racionalismo.
Em contrapartida´, na Escandinávia liberal, os arquitectos procuravam uma síntese entre arquitectura moderna e as suas tradições regionais. O mais importante entre eles, o finlandês Alvar Aalto, qualificou as bases então existentes do Racionalismo como demasiado marcadas por um “funcionalismo técnico” e menos pelas necessidades particulares das pessoas que utilizavam as respectivas construções.


Erik Gunnar Asplund: Biblioteca Municipal, 1920 -1928

Estas necessidades deviam ser minuciosamente analisadas como, por exemplo, o controlo do ângulo de incidência da luz numa biblioteca, conforme o tinha feito o arquitecto sueco Erik Gunnar Asplund em Estocolmo. Segundo Aalto, o “funcionalismo só é justificável quando alargado de modo a incluir as áreas psico-físicas. É este o único caminho para a humanização da arquitectura”, uma opção desprezada durante demasiado tempo.

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