Racionalismo

sábado, 29 de março de 2008

Felicidade planeada

A construção massificada de habitações com estas dimensões representava um novo objectivo tanto para os arquitectos quanto para os donos da obra. Na Alemanha, tal como na Áustria, eram as freguesias, subvencionadas com dinheiros públicos , que, na generalidade, adjudicavam as empreitadas, quer directa quer indirectamente através de sociedades de construção de habitações camarárias ou dos sindicatos.
Estas urbanizações deveriam constituir apenas amostras do desenvolvimento urbano previsto. Ao contrário dos arquitectos de épocas anteriores, os da altura não se satisfaziam com projectos urbanísticos de representação. A cidade também devia ser modelada, como qualquer objecto utilitário, segundo pontos de vista racionais e científicos. Não era por acaso que entre muitos arquitectos modernos, que se entendiam como artistas com responsabilidades sociais, se estabelecia uma forte ligação com a esquerda política. Acreditava-se na possibilidade de planear a felicidade, numa direcção estatal o mais abrangente possível, a partir da qual, com uma fundamentação científica correcta, se geraria obrigatoriamente um mundo novo e belo. Tanto de um lado como do outro, se procurou a salvação através de um reinício radical e, tanto de um lado como do outro, se fracassou.


Le Corbusier
L´Esprit Nouveau pavillion

Le Corbusier tornou-se o porta-voz do Movimento Moderno, entre outras coisas com a revista L´Esprit Nouveau, o seu livro “Para uma nova arquitectura” e vários planos urbanísticos. Para estes baseou-se na ideia extremamente publicitada, em 1917, da “Cite Industrielle”: o francês Tony Garnier apresentara um projecto pormenorizado de uma cidade industrial para 35 000 habitantes, que incluía a utilização dos solos, passando pela sua independência económica até à modulação dos vários edifícios que deveriam ser, em grande medida, erigidos segundo processos industrializados.
Le Corbusier também exerceu uma grande influência sobre os “congressos internacionais de arquitectura moderna” (CIAM), dos quais foi membro co-fundador, e que a partir de1928 se realizaram onze vezes até 1959. Em 1933, no segundo congresso CIAM desse ano foi votada a “Carta de Atenas”, cujos princípios éticos nortearam a prática da maioria dos arquitectos modernos até aos anos 70. Esta propunha a divisão da cidade, que à muito deixara de ser um organismo abarcável, concentrado em torno da Igreja e da Câmara Municipal. Durante o seu crescimento contínuo e a sua expansão em superfície, as metrópoles tinham-se desagregado em vários aglomerados, num sistema de unidades ligadas entre si através de redes de comunicação viária. Agora, a cidade deveria ser dividida segundo as suas várias funções – habitação, administração, produção, consumo e tempos livres. Contudo, a transposição desta ideia após a Segunda Guerra Mundial demonstrou que a desmontagem da confusão caótica de desenvolvimento orgânico conduzia à desertificação de grandes zonas das cidades numa medida nunca antes vista e que outras chegavam a ser fisicamente destruídas (Brasília).

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